Narrativas Possíveis

Narrativas possíveis é um projeto de Alice Dote e Alysson Lemos que nasce em 2017, “do nada, sem grandes pretensões, não como um coletivo de arte urbana, mas simplesmente como uma sistematização de uma prática já existente” ¹.

A criação do Narrativas, então, antes de mais nada, é consequência de um desejo por outras relações com o que se está ao redor, um desejo por outras relações com os mesmos caminhos, por outros caminhos, por outras paisagens. Um desejo por outras percepções do espaço da cidade, por outras formas de estar nesses espaços, por outras Narrativas. Um “desejo de cidade”¹.

Esta prática, a de andar e fotografar, é e sempre será o âmago da razão de ser do Narrativas. Entretanto, o que aconteceu foi que, com a naturalidade dos rizomas que se alastram, apenas dois meses após o início do projeto nas redes sociais, eles foram convidados a dar sua primeira oficina, e “daí veio a vontade de intervir nesses espaços”¹, ainda que isto de se colocar como artistas urbanos ainda seja algo que os dois façam muito timidamente.

Essas oficinas, que desde então eles vêm realizando, têm sempre o caráter de invenção coletiva e espontânea. Construindo o que chamam de “cartografias coletivas”, eles convidam artistas e habitantes do lugar (frequentemente jovens) a intervirem nos muros ou quaisquer outros suportes que se mostrem possíveis. Com proposições de oficinas que propõem experimentação sensorial e artística do espaço em bairros como o Mondubim e o Serviluz , eles buscam não só levar sua forma de expressão de arte até as periferias, mas estimular um debate sobre a apropriação da cidade pelos moradores, bem como sobre a potência transformadora do espaço (sobretudo aquele onde se habita) modificado pela arte urbana.

Assim, suas ações são coletivas e espontâneas num sentido amplo, ousado, onde não se considera mais suficiente simplesmente transportar uma arte pensada e destinada a outro lugar até uma periferia, sendo preciso que cada lugar crie, descubra, revele suas próprias formas, seus próprios relevos, suas próprias imagens e seus próprios sons, em seus próprios tempos.

O Narrativas Possíveis cria somente faíscas e incita ideias nessas periferias; ele existe numa tentativa de chamar atenção para a banalização da vida quotidiana, do lugar onde se mora; ou seja, numa tentativa de desnaturalizar, mostrar outras formas de se viver a experiência de habitar.

¹Alice Dote, em entrevista cedida aos pesquisadores em 24 de Julho de 2019